terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Disfarce.

Manu sempre soube que, se quisesse ser bem sucedida na vida amorosa, não podia deixar tudo transparecer. Para ela, o amor se tratava mais de joguinhos do que de sentimento, de entrega. Apesar de não parecer, era muito romântica. Acreditava em amor verdadeiro, pra vida toda, incondicional e inacabável. Mas dentro dela. Prometeu a si mesma nunca deixar transparecer quando sentisse esse tal amor. E esse seria o segredo de sua eternidade.
Aos 15 anos, já tinha tido 3 namorados. Cada um menos sério que o outro. Pensou que havia sentido o amor dos sonhos com os 3. Pensou que os 3 seriam para sempre, até que acabaram. O encanto acabou, nem sempre por parte dela. Quando isso acontecia, era pior: o fingimento tinha que vir, e como algo natural: tudo bem, calma, eu só tenho 15 anos. Afinal, QUEM a perdoaria por já ter pensado conhecer o amor da vida inteira tão cedo? E 3 vezes? Muita ingenuidade. Via suas amigas "aproveitando" de uma forma que ela não entendia. Mas fingia entender. E fingia bem, até que passava por "desencanada" também. Vivia cada experiência com o coração pulando, com o estômago revirado, mas fingia que era tudo natural, qua não havia nada demais. Fingia que não esperava um amor.
Quando assoprou as velinhas do 22° aniversário, se sentia mais madura, pensou até que podia mudar essa espera que parecia não ter fim: queria um casamento tradicional. Seus ideais eram ultrapassados, suas amigas nem sabiam que ela tinha todo esse sonho por dentro. Passou 22 anos fingindo que adorava a ideia de ser solteira, morar sozinha, viver saindo com as amigas, ser independente e não ter ninguém pra dizer bom dia quando acordasse. Normal.
O desespero de Manu fez com que, em uma tarde qualquer, num lugar comum, em uma hora menos importante ainda, conhecesse na fila de um banco um homem que a olhou de maneira diferente. Na cabeça dela. As mulheres sabem que quando tudo que se quer é a atenção de alguém, de qualquer um, um gesto displicente pode parecer friamente calculado. As esperanças outrora destruídas voltam, ainda mais fortes. Nessa hora, a memória seletiva é infalível e aparecem pôneis, arco-íris e borboletas ao redor. Borboletas, só no estômago.
6 meses depois estava casada com o 43° (ou seria 44°?) amor da sua vida: o cara do banco. Era um homem normal. No começo do relacionamento, todo o encanto e nervosismo que deslumbravam Manu sobreviveram às expectativas. O que ela não sabia, por nunca ter tido um relacionamento duradouro antes era deveras doloroso: um dia a paixão adormece (não acaba - adormece) e o amor toma seu lugar. Manu não acreditava em um amor brando.
A crença de Manu fez com que ela se separasse? Não.
A crença de Manu fez com que ela passasse a vida ao lado de uma pessoa que amava, sem perceber que vivia um verdadeiro amor.
Manu teve 15 anos pra sempre.
Era linda por dentro, mas ninguém a compreendeu verdadeiramente.

...Prometeu a si mesma nunca deixar transparecer quando sentisse esse tal amor. E esse seria o segredo de sua eternidade.

Não deixou transparecer porque não percebeu.

Cumpriu a promessa.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Anseio.

O homem parece estar sempre tentado a buscar mais, a nunca se satisfazer. É impressionante (até engraçado) ver que sonha-se com algo num dia, e no outro achamos mil defeitos no que lutamos tanto para conseguir; isso quando não desistimos totalmente do que foi cobiçado antes. Isso se aplica em todos os âmbitos da vida. Quem não passou no vestibular, quer passar no vestibular; quem passou, não suporta uma matéria ou um professor. É só se livrar dessa matéria ou desse professor para achar outro defeito. É raro ver alguém dizer: minha vida é perfeita do jeito que é. Até quando alguém vai dizer que está satisfeito, diz: "É...não tenho do que reclamar." E isso não acontece porque somos reclamões. Acontece porque essa vida não é perfeita mesmo, e essa acaba sendo a graça. Se estamos felizes, só reconhecemos o valor dessa felicidade porque alguma vez estivemos tristes. É como se diz por aí: quando damos pouco valor a algo, é porque nos acostumamos. Só damos devido valor quando perdemos.
Um ponto crucial para ser mais feliz é PARAR de se comparar com os outros. À primeira vista, superficialmente, várias pessoas vão parecer ter uma vida mais realizada que a sua. Mas, como diria a música de Caetano, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é." Mesmo que as aparências enganem.
Eu tento agradecer só por estar viva, mas uma veia existencialista me consome. Não fujo à regra de nunca estar totalmente satisfeita. Se estou satisfeita com as pessoas ao meu redor, não estou satisfeita comigo mesma. Ou vice-versa.
Outra coisa que estraga o ser humano é a expectativa. De novo, em relação a TUDO. Nas coisas mais simples, a decepção é inevitável pra quem espera demais. "A expectativa voa; a realidade se arrasta". 



Uma coisa é certa: não dá pra fugir da minha natureza.